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first two pages of frankenstein - the national

Esse é o 9° álbum de estúdio do The National e o segundo deles que eu ouvi (o primeiro foi “Trouble Will Find Me”). A Pitchfork definiu o gênero como “rock”, embora tenha muito mais elementos de folk e pop.

Os três grandes nomes da composição do álbum são: Matt Berninger (vocalista), Carin Besser (esposa do vocalista) e Aaron Dessner. Os temas giram em torno da superação da depressão, conflitos amorosos e ponderações sobre o que vira o amor depois de tanto tempo amando.

lançamento: 28 de abril de 2023

ᯓ★ track by track: favoritas

Once Upon A Pool Side (feat. Sufjan Stevens)

Essa música me conquistou logo de cara. O álbum começa com quatro notas de piano que se repetem como se fossem o som de um lamento ininterrupto, um ciclo que o eu-lírico não consegue quebrar e nem sair. A música emana preocupação e medo de não conseguir reagir diante dos acontecimentos cotidianos. A repetição do verso “What was the worried thing you said to me?” mostra que, apesar de tudo, ele espera uma resposta genuína e urgente, nem que ela seja dada por outra pessoa.

Eucalyptus

De acordo com Matt Berninger, essa música:

[…] is about a couple splitting up their possessions after a breakup—like, ‘What are we going to do with the spring water we get delivered, what’s going to happen to all these plants?’ It’s about all those little things you end up having to think about when you’ve become so connected to someone.

Me surpreendeu a sensibilidade do compositor ao cogitar explorar esse tema. É uma coisa meio Wong Kar-Wai. Quer dizer, quando algo material perde seu valor simbólico? E quando foi exatamente que o valor simbólico da coisa se sobrepôs à sua utilidade e agora, de repente, você está nessa situação de término onde precisa encontrar uma finalidade para os objetos que vocês compartilharam juntos?

Mas essa música também me faz pensar na obsolescência das coisas não apenas do ponto de vista romântico, mas como isso está articulado à uma lógica de consumo do sistema capitalista.

New Order T-shirt

Essa música é uma fotografia. É o esforço da memória tentando emoldurar os contornos borrados de momentos eufóricos depois que esses momentos acabaram de forma abrupta.

A letra é cheia de detalhes subjetivos e pessoais que quase me fazem acreditar que eu conheço a pessoa de quem ele tá falando.

“I keep what I can of you

Split second glimpses and snapshots and sounds

You in my New Order t-shirt

Holding a cat and a glass of beer”

This Isn’t Help (feat. Phoebe Bridgers)

Quando uma pessoa importante pra você está em uma situação delicada e você acha que pode ajudar ela, você quer ajudá-la, e então começa a dispender uma infinidade de esforços nesse sentido. Tudo em vão. Porque você mesmo esqueceu de perguntar a essa pessoa se ela queria ajuda. E porque você mesmo acaba sendo uma força constrangedora e inibidora de forma não-intencional. “It isn't fair how you never look like you're trying / As if you couldn't care any less / And I'm here, kicking myself to keep from crying” É uma espécie de inveja sem malícia (como em gold rush, da taylor swift), é uma inveja melancólica de querer saber como ser e não conseguir. E toda ajuda oferecida ser uma pá de terra sobre a sua cova.

Tropic Morning News

Minha favorita do álbum. É a dissonância entre a voz e o verbo e a incapacidade de ser espontâneo (“I didn't have my face on yet or the role or the feel / Of where I was going with it all / I was suffering more than I let on”). É ver as pessoas ao teu redor seguindo em frente, melhorando das suas patologias, depois olhar pra si mesmo e se encontrar estagnado no tempo e no espaço. Desde o começo da música o eu-lírico está tentando dizer o que sente e não encontra as palavras certas pra verbalizar isso, exceto quando inicia “O noticiário da Manhã Tropical” e ele finalmente sente que “There's nothing stopping me now / From saying all the painful parts out loud”. Quer dizer, apenas quando o jornal da manhã inicia — com todas as suas notícias terríveis sobre a noite anterior, a situação climática e o trânsito da manhã — ele se sente minimamente à vontade pra falar das suas dores, como se elas pudessem ser não apenas justapostas, mas vinculadas às próprias dores do mundo. No final da música, ele desiste de tentar se fazer inteligível e decide: “I'll be over here lying near the ocean / Making ocean sounds”

Às vezes as palavras não são a melhor opção para siginificar o que sentimos.


nota final: 4,0 / 5